Por que existem “cães da moda”? Determinadas raças de cães se tornam extremamente populares em certos períodos, em um fenômeno que mistura influências culturais, mídias, celebridades, cinema, novelas, bem como modismos passageiros. Portanto, essa tendência, embora muitas vezes guiada pela estética ou pela exposição na mídia, tem impactos reais na vida dos animais e dos tutores. Neste artigo, vamos analisar como algumas raças ganharam destaque em diferentes épocas e o que está por trás da oscilação dessas preferências, desde o início do século XX.
Efeito Manada: Cães da Moda, Construção Social do Prestígio Canino
Mecanismos de validação social, status e pertencimento influenciam a escolha de determinadas raças de cães. Assim, através da ótica sociológica, analisa-se como celebridades, mídia e redes sociais impulsionam o desejo coletivo por certas raças, reforçando o efeito manada. O tema também aborda como essa busca por conformidade e distinção social transforma os cães em símbolos de capital cultural e social, muitas vezes em detrimento do bem-estar animal.
Cães da Moda no Século XX
Atualmente as redes sociais imperam. Contudo, antigamente as tendências em relação às raças de cães eram fortemente moldadas pela influência do cinema, da literatura e das celebridades hollywoodianas. Filmes clássicos e séries de TV como Lassie e Rin Tin Tin elevaram o collie e o pastor alemão ao status de ícones culturais, enquanto escritores e figuras públicas reforçavam ideais de elegância, lealdade ou bravura associados a determinadas raças.
Dessa maneira, essa relação entre mídia e comportamento social refletia uma época em que a cultura de massa concentrava maior poder de persuasão, criando uma identificação aspiracional que fazia com que milhares de famílias buscassem o mesmo tipo de cão retratado nas telas ou nas páginas dos livros.
Década de 1900: A Elegância do Collie
No início do século XX, o Collie era a raça mais popular. Originário da Escócia, esse cão pastor era valorizado por sua inteligência e lealdade. Contudo, sua popularidade foi impulsionada por sua presença em lares aristocráticos e por sua forte representação na literatura da época.
Década de 1910: O Carisma do Boston Terrier
Nos anos 1910, o Boston Terrier ganhou destaque. Conhecido como “O Cavalheiro Americano”, esse cão compacto e amigável tornou-se símbolo da classe média urbana, especialmente nos Estados Unidos. Assim, a aparência distinta e o temperamento afetuoso reforçaram sua popularidade.
Década de 1920: A Lealdade do Pastor Alemão
Na década de 1920, o Pastor Alemão emergiu como uma das raças mais admiradas. Sua inteligência, bem como a versatilidade o tornaram ideal para funções policiais e militares. A fama de cães como Rin Tin Tin, estrela de filmes da época, contribuiu para sua ascensão.
Década de 1930: O Retorno do Boston Terrier
Durante a Grande Depressão, o Boston Terrier voltou ao topo das preferências. Sua manutenção era mais econômica, e seu tamanho compacto o tornava ideal para ambientes urbanos menores, características valorizadas em tempos de dificuldades econômicas.
Década de 1940: O Encanto do Cocker Spaniel
Nos anos 1940, o Cocker Spaniel conquistou os lares americanos. Sua aparência encantadora, além da natureza dócil, o tornaram um favorito das famílias. A vitória de exemplares da raça em competições caninas renomadas também elevou seu status.
Década de 1950: A Popularidade do Beagle
Com a expansão suburbana nos anos 1950, o Beagle tornou-se uma escolha popular. Sua energia, tamanho médio e natureza amigável o tornaram ideal para famílias em crescimento. Entretanto, a estreia de personagens como Snoopy também ajudou a impulsionar sua fama.
Décadas de 1960: A Sofisticação do Poodle
Durante as décadas de 1960, o Poodle reinou supremo. Disponível em tamanhos variados, sua inteligência e aparência elegante o tornaram símbolo de sofisticação.
Década de 1970: A Era do Pequinês
Durante os anos 70, o pequinês era um verdadeiro símbolo de status. Com sua aparência exótica, pelagem longa e comportamento altivo, essa raça de origem chinesa caiu no gosto popular, especialmente entre as classes médias urbanas. Sua popularidade foi impulsionada por sua aparência aristocrática e pelo espaço reduzido necessário para criá-lo, um atrativo para quem morava em casas pequenas e apartamentos.
Década de 1980: A Ascensão do Pastor Alemão
Nos anos 80, o pastor alemão dominou o cenário. Sua inteligência, porte imponente e versatilidade, como cão policial, de guarda ou de companhia, o tornaram amplamente desejado. Desta forma, filmes e séries, como “Rin Tin Tin”, contribuíram para reforçar sua imagem heroica e leal. Era comum ver famílias orgulhosas com um pastor alemão no quintal.
Década de 1990: O Charme do Cocker Spaniel
Com suas orelhas longas e olhos expressivos, o cocker spaniel foi o queridinho da década de 90. Muito desse sucesso veio da influência do filme “A Dama e o Vagabundo”, da Disney, e de sua aparência afetuosa e “fofa”. A raça era vista como ideal para famílias com crianças e ganhou destaque em comerciais e novelas da época.
Anos 2000: A Sofisticação do Labrador e do Golden Retriever
Os anos 2000 marcaram a era do labrador retriever e do golden retriever. Essas raças, conhecidas por sua docilidade e inteligência, foram amplamente promovidas como os cães perfeitos para famílias. Além disso, passaram a ser usados como cães-guia e cães terapeutas, o que ampliou sua visibilidade e reputação positiva. A publicidade e os filmes reforçaram sua imagem amigável e confiável.
Anos 2010: O Estilo do Bulldog Francês e do Shih-tzu
Com a popularização das redes sociais, raças como o bulldog francês e o shih-tzu se tornaram verdadeiras celebridades caninas. Compactos, fotogênicos e de personalidade marcante, esses cães dominaram os feeds do Instagram. O shih-tzu, em especial, era presença constante em salões de beleza pet, reforçando a associação com o cuidado estético e o estilo de vida moderno.
Anos 2020: O Fenômeno do Weimaraner, Husky Siberiano e Raças “Exóticas”
Nos últimos anos, o weimaraner conquistou os amantes de estética refinada. Com pelagem cinza-prateada e olhos expressivos, virou símbolo de sofisticação. Já o husky siberiano passou a figurar entre os mais populares por sua beleza marcante e pelagem densa, apesar de não ser ideal para todos os climas. Houve ainda um crescente interesse por raças consideradas “exóticas” ou raras, impulsionado por influenciadores digitais e criadores de conteúdo que buscavam diferenciação visual.
Cães da Moda: O Que Explica a Popularidade Passageira das Raças?
A escolha de uma raça muitas vezes reflete mais do estilo de vida e dos desejos do tutor do que das necessidades do cão. Filmes, novelas, celebridades, influenciadores digitais e campanhas publicitárias têm papel decisivo nesse processo. Quando uma figura famosa adota uma raça, a procura por ela dispara.
Contudo, esse fenômeno traz riscos. A popularização repentina pode levar à criação irresponsável, abandonos e problemas de saúde decorrentes de cruzamentos sem critérios. Por isso, é fundamental pesquisar bem antes de escolher um cão, considerando seu temperamento, nível de energia, necessidades de espaço e cuidados específicos.
Considerações Finais: Cães da Moda
Embora a moda influencie fortemente a escolha de raças caninas ao longo das décadas, é essencial que a adoção ou compra de um cão seja uma decisão consciente, baseada em compatibilidade real com o estilo de vida do tutor. O amor e o cuidado devem prevalecer sobre tendências passageiras e efêmeras.
